terça-feira, 11 de agosto de 2009

Introdução

O documento aqui transcrito é da autoria dos professores Daniel António Neto Rocha e Liliana Ferreira Verde, tendo sido apresentado como uma proposta pedagógica de ensino do Português, num contexto específico de ensino, como o próprio prefácio do documento em causa explica.

O documento foi apresentado como proposta no dia 27 de Março de 2009, não tendo tido qualquer resposta aos seus proponentes, pelo que fica, desde já, disponível na Internet, para quantos queiram consultá-lo.

O uso dos textos necessita do aval dos seus autores, devendo ser citado com a respectiva referência bibliográfica:

ROCHA, Daniel António Neto, VERDE, Liliana Ferreira (2009), Projecto Pedagógico de Ensino do Português, <http://projectoportg.blogspot.com/>, disponível em [data de acesso].

Daniel António Neto Rocha

PROJECTO PEDAGÓGICO DE ENSINO DO PORTUGUÊS

Ensiguarda – Escola Profissional da Guarda

Português

Os professores proponentes:
Daniel António Neto Rocha
Liliana Ferreira Verde

Dedicatória

A todos os nossos Alunos, motivo da
nossa preocupação e dedicação diária.
“Floreça, fale, cante, ouça-se e viva
A Portuguesa língua! E já onde for
Senhora vá de si, soberba e altiva.

Se tèqui esteve baixa e sem louvor,
Culpa é dos que a mal executaram,
Esquecimento nosso e desamor.

………………………………………

E os que despois de nós vierem vejam
Quanto se trabalhou por seu proveito
Porque eles para os outros assi sejam.”


António Ferreira, Carta a Pêro de Andrade Caminha
“Diz-me e eu esquecerei.
Ensina-me e eu lembrar-me-ei.
Envolve-me e eu aprenderei.”
Provérbio Chinês


“Ensinar não é inculcar, nem transmitir, é fazer aprender.”
Oliver Reboul


"É preciso questionar qual é, nas nossas escolas,
o lugar das pessoas que moram nos alunos"
Joaquim Azevedo


“Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros
de forma neutra.”
Paulo Freire


“Será indispensável alterar a organização das escolas, interrogar práticas educativas dominantes. É urgente interferir humanamente no íntimo das comunidades humanas, questionar convicções e, fraternalmente, incomodar os acomodados.”
José Pacheco

ÍNDICE

Prefácio

Projecto Pedagógico de Ensino do Português

Considerações Finais

Bibliografia de referência e de apoio

Webgrafia de referência e de apoio

PREFÁCIO

Os projectos pedagógicos de ensino da Língua Materna pecam, sobretudo, pela falta de ousadia nas opções estruturantes dos projectos, nas metodologias didáctico-pedagógicas e na relação professor-aluno. Ignora-se, não raras vezes, na opção por aquelas, importantes vectores, tais como o percurso escolar dos alunos, as suas capacidades (desembocando-se num desinvestimento sucessivo nas suas verdadeiras capacidades), e as suas dificuldades, específicas ou não.
Os alunos dos cursos profissionais, em Portugal, são encarados, ainda que isso faça parte de um discurso em surdina, do “restolho” dos alunos, ameaçados pelo desemprego, pela competição académica e outros factores decorrentes dos períodos conjunturais. Apresentam graves lacunas no domínio da língua materna e alimentam um insucesso escolar gritante que, levando facilmente à desmotivação, leva também a um desinvestimento atroz e despoletador do pior dos caminhos, a desistência de estudar e de querer saber e aprender mais. Remediar um percurso escolar incerto, desajustado à realidade cultural dos alunos impõe a necessidade de optar por outros caminhos, de “montar” projectos-piloto e, acima de tudo, de procurar outros sistemas, caminhos, diálogos, cujas metas sejam sempre a qualidade, a exigência e a inovação.
Pensar uma escola nova e diferente é pensar tudo de novo, com sacrifício, com originalidade, em cooperação, em espírito de responsabilidade por quantos serão o futuro de Portugal e constituem o seu Capital Humano, os Alunos. É necessário um outro olhar sobre a sala de aula, sobre os professores e sobretudo sobre os alunos, na forma como estes aprendem, em pleno século XXI, e as competências que têm de ver desenvolvidas.
O modelo por que a Escola se tem organizado é alvo de várias críticas, porquanto os resultados desastrosos da Educação em relatórios internacionais como o P.I.S.A. e o descontentamento geral das políticas. Dentro das críticas mais ferozes sobressaem modelos mais ou menos inspirados em boas práticas estrangeiras. Com efeito, dentro e fora da União Europeia, destacam-se vários exemplos de excelência. A discrepância dos resultados nacionais dos estrangeiros deverá merecer da nossa parte alguma atenção, fazendo-nos reflectir sobre os modelos adoptados.
Apraz-nos, assim, pela oportunidade que nos foi dada de constatar e participar “in loco” outros sistemas educativos, de reflectir sobre as diferentes realidades e partir com algumas premências daquilo que consideramos constituir um bom ensino do Português, evitando, ao máximo, a reprodução de modelos pedagógicos e o ostracismo de quantos não têm conseguido evoluir de acordo com o esperado para a sua idade.
Assim, apresentamos uma proposta metodológica capaz de primar pela diferença e pela inovação, testada e com resultados positivos, em Portugal e em países da União Europeia, como a Finlândia e a Suécia.
Tendo em consideração que o sucesso escolar de cada aluno, único e irrepetível, no seu processo, passa pela sua total realização pessoal e académica, pretendemos ajudá-lo a atingir essa meta, sabendo de antemão que os objectivos a atingir serão diferentes e que nem todos os alunos pretenderão prosseguir os estudos. Tendo em conta isto, é necessário investir e exigir dos alunos que, volitiva e potencialmente, poderão vir a ingressar o Ensino Superior, Técnico ou Universitário, sem determinar, à partida, quem o deverá ou não fazer. À Escola, a partir de um propósito único e diferente, cabe fazer com que o aluno desenvolva, ao máximo, o seu potencial, assim como desenvolva e incremente, paulatinamente, aquelas que são, actualmente, as competências requeridas aos trabalhadores pelo sector empresarial: a Responsabilidade, a Capacidade de Iniciativa, a Capacidade de Trabalho em Equipa, a Adaptabilidade, a Capacidade de Expressão Oral e Escrita, a Criatividade, a Autonomia, a Capacidade de Argumentação e a Ética.
Porque é bom nunca perder de vista que a escola é uma escol(h)a, e que aos professores deve caber também o papel e o dever de sugerirem práticas didáctico- -pedagógicas mais ajustadas à realidade e que julguem melhorar o acompanhamento eficaz da heterogeneidade, apresentamos, aqui, um Projecto Pedagógico de Ensino de Português para a Ensiguarda – Escola Profissional da Guarda, decorrente da nossa experiência de docência, durante um semestre (desde Setembro a Março), com os alunos do 1.º ano, e que procura sugerir metodologias e actividades que melhor se adeqúem aos alunos em causa. As propostas são, pois, feitas em função das características dos alunos que integram o Ensino Profissional.
Algumas estratégias propostas foram já apresentadas anteriormente à Escola, contudo, encontram-se aqui de novo, por uma questão de sistematização e organização.
As metodologias apresentadas não exigem muitas alterações ou até gastos monetários alargados, antes uma mais equilibrada gestão dos recursos humanos de que a Escola, muito provavelmente, já dispõe.
Conscientes de que muito há a dialogar e que qualquer processo de mudança enfrenta resistência, ficaremos disponíveis para esclarecer possíveis dúvidas sobre as metodologias e as propostas apresentadas, assim como fazer parte do processo de reflexão, diálogo, trabalho árduo, reorganização, persistência, capacidade heurística, não esquecendo ainda que a mudança se processa num contexto escolar próprio e que exige tempo.
Na Educação, não há receitas, mas há boas oportunidades para mudar e melhorar.

… e estamos conscientes de que é urgente agir quanto antes.




Os Professores de Português,

Daniel António Neto Rocha

Liliana Ferreira Verde

MISSÃO: SUCESSO ESCOLAR COM QUALIDADE

UM DIREITO DE CADA ALUNO(A)!

(…) Encorajar a frequência escolar regular e a redução das
taxas de abandono escolar.
(Artigo 21/1.f da Convenção dos Direitos da Criança)


(…) Contribuir para a eliminação da ignorância e do analfabetismo no mundo e a facilitar o acesso aos conhecimentos científicos e técnicos e
aos modernos métodos de ensino.
(Artigo 28/3. da Convenção dos Direitos da Criança)


Promover o desenvolvimento da personalidade da criança, dos seus dons e aptidões mentais e físicos na medida das suas potencialidades.
(Artigo 29/1.a da Convenção dos Direitos da Criança)

PROJECTO PEDAGÓGICO DE ENSINO DO PORTUGUÊS

Após um século de profundas alterações filosóficas e epistemológicas relativas à concepção da Escola, cuja evolução se operou no sentido de alterar, reformular ou acabar com o modelo industrial do ensino-aprendizagem, o século XXI acarreta a responsabilidade de, aprendendo com os erros do passado e com a excelência das práticas, caminhar rumo a um processo de mudança mais justo e equilibrado. Mais do que nunca, a Escola Pós-Moderna tem de ser capaz de se auto-reinventar, pensar-se criticamente e projectar-se rumo a um Futuro que é ele mesmo incerto.
Se antes, no modelo autocrático e industrial, estilo “tamanho único”, a ideologia se centrava num modelo transmissivo e centralizado, agora, as tendências têm vindo a projectar-se num modelo construtivista e cooperativo, cujas bases assentam numa nova concepção de ensinar e aprender. Assim, Freire (2006:22), refere que «ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou construção». Aprender, por seu lado, não é um acto receptivo, é um acto pessoal, activo e que requer, pela natureza individual de cada um, individualização e diferenciação.
A escola de massas abriu caminho à inclusão, sendo «que pretende dar resposta às necessidades de todos os alunos, sejam quais forem as suas características, nas escolas regulares das suas comunidades e, sempre que possível, nas classes regulares dessas mesmas escolas» (Correia, 2001:128). Efectivamente, outros alunos, provenientes dos mais diversificados contextos culturais, com dificuldades de aprendizagem de toda a ordem, quer se trate de alunos, por exemplo, disléxicos, ou com comportamentos disruptivos, antes rejeitados por não aprendem como a grande maioria, são encarados como parte da escola. Apesar de considerarmos um avanço, há, porém, quem conteste este modelo. Mas como poderemos encarar a realidade de outra forma se à Ética docente preside a inclusão de todo e qualquer aluno e se as turmas com que nos deparamos primam pela heterogeneidade, muitas vezes numa abismal discrepância motivacional, cognitiva e cultural?
Acima de tudo há que ter consciência de que há problemas, muitas vezes graves, e que a mudança não se opera, porque as pessoas não compreendem que é possível mudar, aprender e ensinar de maneira diferente. Tudo é encarado com fatalismo ou como já adquirido. Nós sabemos e acreditamos que é possível mudar o rumo.

Entendemos um Projecto Pedagógico de Ensino de Português como aquele que se deve pautar por duas linhas de orientação primárias:
1.ª – os objectivos centrais da aprendizagem;
2.ª – os problemas identificados.

1.ª – Os objectivos centrais da aprendizagem

Assim sendo, advogamos um Projecto Pedagógico de Ensino de Português que vise, na sua essência:
1. o sucesso escolar dos alunos,
2. a valorização do máximo das capacidades dos alunos,
3. um ensino individualizado,
4. um acompanhamento das dificuldades dos alunos,
5. o respeito pelos diferentes ritmos de aprendizagem.
6. um harmonioso desenvolvimento sócio-afectivo,
7. a responsabilidade,
8. a autonomia,
9. a cooperação e o espírito de entreajuda,
10. a responsabilização das atitudes e dos comportamentos em contexto de aprendizagem formal,
11. a valorização dos progressos e dos processos de aprendizagem.

2.ª – Os problemas identificados

Durante o período referido no prefácio, foi possível identificar os seguintes problemas:
1. falta de atenção;
2. falta de persistência nas tarefas;
3. falta de hábitos de trabalho;
4. desorganização de materiais fundamentais para o trabalho, em sala de aula e em casa;
5. indisciplina (falta de regras estruturantes) e desadequação comportamental no contexto de sala de aula;
6. ausência de uma cultura (literária) básica;
7. ausência de reflexão;
8. falta de espírito crítico e opinativo;
9. falta de treino e hábitos de leitura;
10. falta de reconhecimento da operacionalização dos conhecimentos aprendidos em sala de aula, no quotidiano, e/ou nas situações de trabalho;
11. graves dificuldades na expressão de ideias;
12. passividade.

Atendendo aos objectivos do ensino-aprendizagem da língua materna, assim como aos problemas identificados, e tendo em conta a necessidade de (re)inventar a Escola e o sistema de Ensino Profissional e/ou Profissionalizante, propomos:
· metodologias didáctico-pedagógicas,
· ensino diferenciado,
· estratégias de prevenção,
· estratégias de intervenção,
· estratégias de remediação,
· estratégias de enriquecimento.


Figura 1 – Diagrama sobre a Intervenção Pedagógica no Ensino do Português

METODOLOGIAS DIDÁCTICO-PEDAGÓGICAS

I – DOCÊNCIA

Face ao mito da monodocência, demasiado fechado sobre si mesmo, defendemos o ensino cooperado [“team teaching”, cf. Buckley, 2000], i.e., a docência por dois professores na mesma sala de aula. Este método apresenta substanciais benefícios quando comparado com outros, a saber:
1.º – o acompanhamento dos alunos,
2.º – a preparação de aulas em conjunto,
3.º – a repartição de correcção de trabalhos de aula e de casa,
4.º – a discussão de estratégias de ensino-aprendizagem.

Este método deverá vigorar, obrigatoriamente, conforme indicado, por um período indefinido até os alunos demonstrarem autonomia comportamental e de trabalho. Poderá verificar-se a necessidade de haver sempre a presença de dois professores se isso possibilitar uma aprendizagem gradual, que respeite o ritmo de aprendizagem do aluno.

II – SALA DE AULA

O acesso ao saber e à aprendizagem no espaço da sala de aula é muito mais do que uma integração física e social, é também uma «integração cognitiva».
À sala de turma única, sem qualquer adaptação à disciplina de Português, propomos uma sala de Português, denominada inclusive por Sala de Português, ou por um nome de um escritor da Guarda, com as seguintes características:
1.ª – sala ampla;
2.ª – sala com mesas em grupos pequenos;
3.ª – estante para dossiês, livros de leitura recreativa, dicionários, gramáticas, Pastas Individuais, entre outros;
4.ª – computador com acesso à Internet;
5.ª – materiais digitais (C.D., C.D.-ROM.).

III – MATERIAIS DE APRENDIZAGEM: MANUAIS

Um dos assuntos em discussão, actualmente, com o alargamento do ensino profissional, é a questão da adopção de manuais escolares. (Co)Respondendo à necessidade de avaliar e discutir melhor esta situação, de suprimir as dificuldades de ensino-aprendizagem sentidas em contexto de sala de aula, e de corresponder aos múltiplos e diversos interesses dos alunos dos diferentes cursos profissionais, entendemos, nesta fase, manifestar a nossa sincera opinião sobre o assunto. Esta discussão, suscitada, em contexto alargado, pela Associação de Professores de Português, foi disponibilizada à mesma.
Entendemos que os manuais deverão corresponder àquilo a que propomos nomear de manual-dossiê. Entende-se por manual-dossiê um instrumento de trabalho facilmente adaptável às necessidades de cada curso, que inserindo-se no Programa – Componente de Formação Sociocultural – Disciplina de Português dos Cursos Profissionais de Nível Secundário, consiste num livro e num C.D. de apoio. O livro constará apenas e somente dos conteúdos programáticos e/ou científicos. O C.D. integrará exercícios variados de aplicação dos conhecimentos teórico-práticos, em diferentes graus de dificuldade.
Consideramos que o ensino profissional se deve reger por metodologias de ensino-aprendizagem diferentes das que são comummente associados ao Ensino Regular. Por isso, focamos dois exemplos práticos:

1.º) Curso de Técnico de Multimédia

Sendo um curso vocacionado para uma vertente técnica, pretende-se que os alunos deste curso apreendam competências de realização e construção de materiais de multimédia que sejam atractivos ao mercado. Desta forma, o ensino-aprendizagem veiculado no Módulo II, Textos Expressivos e Criativos e Textos Poéticos, após uma abordagem inicial à poesia camoniana, mais formal, pretendendo demonstrar a ordem e o equilíbrio das formas na transmissão de mensagens, pode centrar-se na poesia experimental, nomeadamente na poesia visual e na poesia cibernética. Estes textos visuais pretendem aliciar e cativar os alunos para a necessidade de um trabalho de interpretação e, simultaneamente, de codificação que envolva todos os sentidos e os coloque em contínua actividade. Assim, os alunos são constantemente alertados para a necessidade embrionária de perceber e interpretar os sinais-símbolos que são transmitidos ao leitor pelo poeta/escritor/designer experimental.
Tendo em conta os objectivos do programa e a adequação textual ao curso, poderão ser leccionados (não só, mas também) poemas visuais de E. M. Melo e Castro que fazem interagir a imagem com uma ou outra palavra, e ao mesmo tempo constroem um horizonte significativo através da sugestão. No mesmo sentido, e apelando aos interesses globais da juventude, teremos os poemas script e flash de Antero de Alda. Este designer multimédia funcionará como despoletador de curiosidades criativas, pois trabalha com equipamento software igual ao utilizado pelos alunos nas disciplinas específicas do curso.
Os materiais necessários serão disponibilizados através de um CD-Rom, que estará agregado ao Manual-Dossiê, em formato digital, permitindo aos alunos uma correcta visualização e encorajando a integração nos seus hábitos e gostos (internautas e informáticos) de textos literários portugueses. Este formato permitirá uma interacção perfeita com o texto, pois este poderá ser manipulado de acordo com a imaginação-criatividade do aluno, sendo o objectivo final a construção de poemas-cibernéticos que sejam já demonstradores do trabalho interpretativo de codificação imagética.

2.º) Curso de Técnico de Animação Sociocultural

Pretende-se que os alunos deste curso sejam capazes de desenvolver, em contexto de trabalho/estágio, diversas actividades com crianças. O conhecimento do desenvolvimento da criança dita normal e das crianças com Dificuldades de Aprendizagem ou com Necessidades Educativas Especiais (Paralisia Cerebral, Sobredotação, Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção, Síndrome de Asperger, Autismo, Surdez, Cegueira ou Baixa visão, entre outros), é fulcral para um trabalho que se considere educativo e de qualidade, assim como para o trabalhar para uma Sociedade que se pretende aberta à Diferença, de Respeito pelo Outro, e Inclusiva. A optimização das situações de aprendizagem requer uma gestão aprimorada de recursos e de oportunidades para desenvolver competências e aprender mais. Sendo esta uma competência que os alunos têm de ver desenvolvida no final do Curso Profissional, é de todo o interesse que possam cruzar e conjugar saberes.
No Módulo IV, Textos dos “Media” I, um dos conteúdos a leccionar é o Artigo Científico e Técnico. Tendo em conta a necessidade de no curso de Técnico de Animação Sociocultural se ser conhecedor do desenvolvimento infantil e dos desvios de um desenvolvimento normal, é de todo o interesse que os alunos possam desenvolver pequenos projectos de redacção (próximos da estrutura que se pretende para o Projecto de Aptidão Profissional), que constituam Artigos Científicos e Técnicos, incluindo uma parte teórica e uma empírica.
Nem sempre sendo fácil a aquisição de material necessário para trabalhar em contexto de sala de aula, o manual-dossiê seria de auxílio essencial, visto poder conter diverso material de garantida qualidade, facilmente seleccionável, de acordo com os assuntos em estudo, sem se proceder a gastos desmesurados de papel, imprimindo-se somente o material necessário. Assim sendo, seria permitido a cada aluno seleccionar apenas e somente o material que considerasse importante e, a partir, daí desenvolver o seu próprio Artigo Científico e Técnico. Isto não dispensaria, obviamente, a consulta de livros em bibliotecas ou de pesquisas na Internet.

O manual-dossiê, à falta de manuais propostos pelas editoras, será da produção e da responsabilidade dos professores de Português da Escola.
A verificar-se a adopção destes manuais por editoras, a escola poderá adoptá- -los, tendo em conta os seus Cursos Profissionais.

ENSINO DIFERENCIADO

O ensino diferenciado é aquele que promove a evolução natural e progressiva das aprendizagens, procurando «o crescimento máximo do aluno e o seu sucesso individual» (Tomlinson e Allan, 2002:17), portanto, um desenvolvimento global do aluno ao nível académico, sócio-emocional e pessoal. Este é um método cujo ensino se centra mais no aluno de modo a responder às suas necessidades individuais. Não é um ensino individual, porquanto se procura fomentar a autonomia e não menospreza o trabalho de outros alunos, em simultâneo, no mesmo espaço.
Esta metodologia procura dar resposta à heterogeneidade das turmas, pois, aí, coexistem alunos com capacidades de aprendizagem avançadas e outros que revelam extremas dificuldades, assim como procura diminuir as assimetrias a nível de conhecimentos, trabalho autónomo... Pretende também estar mais perto do processo de aprendizagem dos alunos, procurando que não vão deixando módulos para trás e que a aprendizagem seja gradual. O contrário leva à acumulação de dificuldades e lacunas que interferirão com aprendizagens cumulativas e/ou gradualmente mais exigentes do ponto de vista da abstracção ou até da praxis.



Nota:
Algum discurso tem desvirtuado, por diferentes interpretações, a ideia de diferenciação. Diferenciar não é criar situações de “igualdade”, no sentido em que todos sejam iguais. Os alunos não são iguais e, necessariamente, precisam de um tratamento diferente. Há que reconhecer que «enquanto não lidarmos conscientemente com as diferenças de que os alunos são portadores, tal como com as suas semelhanças, temos tudo a perder.» (Tomlinson e Allan, 2002:8). Assim, em gestão pedagógica, «diferenciar é não dedicar a todos a mesma atenção, o mesmo tempo, a mesma energia.» (Perrenoud, 2001:44).
Diferenciar percursos, por uma pedagogia diferenciada também não consiste na individualização do ensino, mas é «organizar as interacções e as actividades, de modo que cada aluno seja confrontado constantemente, ou ao menos com bastante frequência, com as situações didácticas mais fecundas para ele.» (Perrenoud, 2001:27). Nisto, «os alunos participam activamente do projecto de ensino- -aprendizagem gerido de forma intencional e diferenciada pelos professores» (Tomlinson e Allan, 2002:9).
No fundo, é preciso encontrar um sistema organizado, planificado e reflectido que articule diferentes tipos de trabalho num mesmo momento: a uns alunos que lhes permita longos momentos de trabalho autónomo, a outros que o professor se detenha mais num grupo pequeno ou só num aluno, individualmente. A todos os alunos são apresentadas propostas de trabalho e actividades adequadas e desafiantes de forma a trabalharem consistentemente (Tomlinson e Allan, 2002:20).
O ensino cooperado, supracitado, é fulcral, pois permite acompanhar e gerir projectos de diferenciação pedagógica conduzidos por uns e outros. A troca de registos ou a criação de um portefólio relativo ao perfil dos alunos facilita a tarefa de diferenciação (Tomlinson e Allan, 2002:95).

PASTA INDIVIDUAL

Para uma avaliação-reflexão do trabalho desenvolvido dentro e fora da sala de aula, e para um acompanhamento mais sistemático do trabalho do aluno, propõe-se a criação de uma Pasta Individual, onde estará registado todo o trabalho desenvolvido pelo aluno.
Este instrumento de trabalho é essencial, visto apontar-se para um ensino diferenciado que pressupõe a existência de um apontamento do trabalho desenvolvido e dos objectivos a atingir, que funcione como instrumento de registo e análise do percurso de aprendizagem do aluno.

PORTEFÓLIO

Este é um instrumento de trabalho que funciona como arquivo dos exercícios e dos trabalhos desenvolvidos pelo aluno.

ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO

Avaliação de Pré-Requisitos

É de extrema importância que, antes de qualquer ensino e intervenção, em contexto formal, os professores avaliem os pré-requisitos dos alunos. Este é um suporte ao ensino de extrema importância, porquanto a necessidade de constituir grupos heterogéneos de trabalho e de elaborar materiais didáctico-pedagógicos de suporte à aprendizagem.
Propõe-se, assim, avaliar, à entrada do ensino profissional, em data específica para o efeito, as seguintes áreas:


Áreas de Avaliação
1 Leitura oral
2 Leitura compreensiva
3 Hábitos de leitura recreativa
4 Escrita
5 Oralidade
6 Conhecimento explícito da língua
7 Cultura geral
8 Hábitos e métodos de estudo

É indispensável identificar, logo de início, os alunos com currículos alternativos ao currículo regular e/ou que não tenham tido, por diversos motivos, um percurso escolar linear.

ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO

Entende-se por estratégias de intervenção todas aquelas que visam suprir uma dificuldade de aprendizagem e que visam a actuação nas dimensões a contemplar no processo de ensino do Português nas suas diversas vertentes.

PORTUGUÊS: INTERVIR JÁ!

Face às extremas dificuldades que alguns alunos apresentam no domínio da Língua Materna, propõe-se criar pequenos grupos de trabalho, entre 4 e 5 alunos, com uma carga horária de duas sessões de 45 minutos, por semana. (Estes grupos podem ser extensíveis, inclusivamente, ao horário da sala de aula, num período inicial de intervenção.)
São objectivos desta intervenção:
1. desenvolver as competências de domínio da Língua Materna na Leitura, na Escrita, no Funcionamento da Língua e na capacidade de Raciocínio Linguístico;
desenvolver as áreas básicas (do raciocínio, da percepção visual, da linguagem, da memória), que potenciem o cérebro[1];
fomentar hábitos de trabalho individual e organização do estudo pessoal;
acompanhar as dificuldades prementes dos alunos.

Os alunos que integrarem os grupos supracitados são todos aqueles que não tenham desenvolvidas competências elementares e estruturantes de leitura e escrita. Estes são os alunos que se encontram nos níveis 0 e 1 (vide os anexos).
[1] Com exercícios mínimos para realizar.

REDIS (REEDUCAÇÃO DA DISLEXIA)

O Decreto-Lei n.º 3/2008 exclui, quase na sua totalidade, os alunos disléxicos. Ainda que o Legislador não reconheça as Dificuldades de Aprendizagem Específicas (D.A.E.)/Dislexia, elas são atestadas por investigadores de renome e de peso no que concerne à investigação científica nesta área, nacionais e internacionais (cf. Vítor da Fonseca, Vítor Cruz, Helena Serra, Luís Miranda Correia, João Lopes, Inês Sim-Sim, José Morais, Sally Shaywitz, Margaret Snowling, Franck Ramus). Alunos com D.A.E. constituem 10 a 15% da população escolar, pelo que é inevitável não ignorá-los. A crer que no ensino profissional integram muitos alunos desmotivados, com falta de um apoio específico na aprendizagem, e com insucesso académico, a percentagem de alunos com D.A.E. poderá ser muito maior do que a apresentada.
Sustentando a nossa posição de intervenção na APDIS, Associação Portuguesa de Dislexia, constituem os objectivos da intervenção na Dislexia:
1) desenvolver exercícios específicos de reeducação psicopedagógica da Dislexia;
2) fomentar hábitos de trabalho individual e organização do estudo;
3) acompanhar as dificuldades mais prementes dos alunos;
4) sugerir estratégias em contexto de sala de aula e adaptações na avaliação;
5) aconselhar os pais e familiares em estratégias de ajuda a alunos com esta especificidade.

Propõe-se duas a três sessões semanais de apoio individualizado, para alunos que apresentem D.A.E..

OFICINA DE CALIGRAFIA

Ainda que raros, há alguns alunos sem caligrafia. Uma Oficina de Caligrafia, quer de reeducação, quer de aprendizagem da caligrafia artística, permitiria avaliar e melhorar problemas de postura, pega e pressão, e de qualidade da escrita (espaçamento, inclinação, tamanho da letra, alinhamento, distorção ocasional da letra, tremor, erros de apresentação).
Esta seria uma actividade a realizar em contexto de reeducação e de enriquecimento (vide capítulo de Estratégias de Enriquecimento), com direito a Diploma passado pela Escola.

ESTRATÉGIAS DE REMEDIAÇÃO

Entende-se como estratégias de remediação todas aquelas que visam suprir uma dificuldade pontual.

PORTUGUÊS: QUERER +!

Face às dificuldades que a generalidade dos alunos apresenta no domínio da Língua Materna, e à necessidade de acompanhar o desenvolvimento e o progresso individual de cada um, propõe-se prestar um apoio esporádico de apoio à correcção e/ou revisão acompanhada de trabalhos desenvolvidos em casa e/ou nas aulas.
São objectivos desta intervenção:
1. Desenvolver as competências de domínio da Língua Materna na Leitura, na Escrita, no Funcionamento da Língua e na capacidade de Raciocínio Linguístico;
Fomentar hábitos de trabalho individual e organização do estudo pessoal;
Motivar para a reflexão e aperfeiçoamento do trabalho pessoal;
Acompanhar as dificuldades dos alunos.

Os alunos que integrarem os grupos supracitados são todos aqueles que não tenham desenvolvidas competências elementares e estruturantes de leitura e escrita. Estes são os alunos que se encontram, sobretudo, entre os níveis 2 e 3 (vide os anexos).

ESTRATÉGIAS DE ENRIQUECIMENTO

Entende-se como estratégias de enriquecimento todas aquelas que visam potenciar competências.

PORTUGUÊS L2

Dadas as contingências da emigração portuguesa (principalmente da década de 60) e do actual panorama da imigração, principalmente, desde os países de leste, do Brasil e dos PALOP, tem havido um aprofundamento das relações da escola com esses novos alunos. Se, por um lado, os filhos de emigrantes trazem algum conhecimento de base do Português Europeu no momento do regresso a casa, pois não houve (na maior parte dos casos) um corte radical com a cultura e a língua do pais natal, e se, por outro lado, os actuais imigrantes demonstram vontade de integração total num novo país e numa nova cultura, é certo que existem problemas de integração que devem ser acautelados no momento de receber esses novos alunos.
O reconhecimento desta multiculturalidade linguística dentro das escolas portuguesas e a vontade de integrar os falantes nativos de outras línguas levou o Ministério da Educação a definir actividades de apoio para estes estudantes, que estão já, paulatinamente, a ser integradas e testadas em escolas-piloto (principalmente na região de Lisboa).
Na constatação de que este é um problema que em breve vai atingir com proporções desconhecidas todo o sistema escolar nacional e que dentro das paredes da Ensiguarda encontramos já alguns alunos que se encontram nesta situação (descendentes de emigrantes em França e alunos Brasileiros), propomos o desenvolvimento de actividades que colmatem as dificuldades que estes alunos apresentam na abordagem do Português L1, preparando já um esquema escolar que prime pela diferença na recepção de potenciais alunos que se apresentem na mesma ou em situação mais diferenciada.

OFICINA DE CALIGRAFIA

Vide a este respeito, no capítulo das Estratégias de Intervenção, a Oficina de Caligrafia.

EXPRESSÃO DRAMÁTICA

Cada vez mais existe, na Sociedade, a ideia de integração plena dos trabalhadores. Eles não só têm de possuir competências técnicas, como têm de as saber utilizar e de mostrar que realmente as possuem. A confiança e a intensidade de demonstração dessas competências são, portanto, importantes na definição do papel que a entidade empregadora terá dos profissionais. Dada essa importância e essa definição, os alunos terão de se complementar com mecanismos de transmissão de saberes eficazes.
A Expressão Dramática terá uma importância primordial no aprofundamento dos domínios do discurso público e da postura corporal aquando do contacto público. Esta “disciplina” permite a apreensão e o treino de diferentes domínios pertencentes à expressão dramática, de competências integrantes do domínio corporal e psicológico que permitam a interacção com um auditório, de competências ao nível da emanação do discurso (dicção, intensidade fónica, curva tonal, reformulação e rapidez de pensamento, etc.), de competências de leitura e de competências de memorização textual.

ESCRITA CRIATIVA

Há a ideia de que as actividades de Escrita Criativa se destinam àqueles que querem ser escritores. No entanto, não é isso que deve ser entendido quando falamos desta actividade em contexto escolar. A Escrita Criativa começou a ser divulgada no período de ascensão do mercado editorial. Com a criação de novas editoras e de novos interesses por parte dos leitores, o mercado formativo passou a divulgar cursos de Escrita para potenciais escritores. Como é óbvio, nem todos os interessados nesses e frequentadores desses cursos possuem qualidade para poderem ser colocados nas livrarias, sendo que o interesse dos fomentadores desses cursos parece não ter como intenção final a formação de escritores, apesar de alguns desses formadores afirmarem que pretendem formar melhores escritores.
A Escrita Criativa, enquanto actividade a ser desenvolvida com os alunos da Ensiguarda, pautar-se-á pela obediência a alguns princípios: não terá como intenção formar escritores; não terá como intuito a criação de qualquer meio editorial; terá a escrita e a sua melhoria como fim; será um meio dos alunos transmitirem, segundo os seus princípios, as suas ideias e sentimentos; será um meio de aprendizagem da língua portuguesa através da constatação do erro na transmissão de mensagens individuais; será um espaço de troca de experiências em que o gosto pela escrita e pela leitura seja bem marcado.

TERTÚLIAS DO PARNASSO

Integrado no quadro das ciências humanas, o estudo do Latim, ainda que a partir de um curso elementar da língua e da cultura latinas, não descurando critérios de exigência e de qualidade, é de inegável e incomparável valor. Grosso modo, o estudo da língua e da cultura latina possibilitam o desenvolvimento e aprofundamento das competências da língua. Ele age também como uma inegável abertura para diversas e divergentes oportunidades de enriquecimento de competências pessoais que, mais do que nunca, são de inegável importância na aprendizagem.
Ao nível da formação de competências de trabalho, a aprendizagem da língua latina age como objectivo instrumental e de aplicação, e ainda como objectivo de disciplina (mental). Assim, é um instrumento ímpar na formação da maturidade e da autonomia do aluno, pois que contribui para o desenvolvimento de hábitos de atenção constante, actividade ordenada, superação de dificuldades, perseverança, exactidão, perfeição e hábitos de reflexão. A aprendizagem do Latim age ainda como treino da língua e da destreza das estruturas cognitivas e mentais superiores. Enquanto língua de cultura, é essencial para uma cultura (humanista) mais vasta, assim como para o conhecimento do homem e das suas raízes na Civilização Ocidental, principalmente porque se prende com outras disciplinas tais como a História, a Filosofia ou o Direito. Já ao nível da formação linguística, o estudo da língua latina é essencial no domínio da estrutura linguística das línguas latinas, em particular do Português, sobretudo num domínio mais acurado do léxico e das estruturas morfo-sintácticas e semânticas da frase. O contacto com a nossa língua-mãe permite aprimorar a compreensão dos textos, a fruição estética e a escrita.

Objectivos das “Tertúlias de Parnasso”:
1) desenvolver e aprofundar as competências da Língua Portuguesa;
2) fomentar a destreza mental nas competências linguísticas.

Operacionalização:
1) mini-Curso de Introdução ao Latim e à Cultura Clássica, numa sessão semanal de 60 minutos;
2) certificado no final de frequência do Mini-Curso e de realização de conteúdos específicos, assinado pelos professores responsáveis e pela Escola, para o curriculum vitae dos alunos.

Nota:
Mini-Curso sobretudo para os cursos de Técnico de Comunicação e Técnico de Serviços Jurídicos.

OUTRAS ESTRATÉGIAS

A uma Escola Profissional compete desenvolver as competências dos seus alunos, preparando-os, quer para o mundo laboral, quer para a continuação dos estudos. Neste sentido, é da máxima importância recorrer a todas as estratégias possíveis para envolver, quer os alunos, quer toda a comunidade escolar.
Procurou-se, neste documento, delinear, somente, algumas das estratégias que se consideram, neste momento, importantes de pôr em prática para alcançar um mínimo de qualidade e eficiência. Outras há, num futuro próximo, que deveriam centrar a nossa atenção e esforço. Deixamos, aqui, algumas sugestões:
- reeducação psicopedagógica;
- actividades culturais variadas: conferências, tertúlias;
- voluntariado;
- gabinete de Psicologia;
- Escola de Pais;
- Associação de Pais;
- Assembleia de Escola;
- Associação de Estudantes;
- Biblioteca;
- Espaços lúdicos (com ténis de mesa, jogos de tabuleiro, jornais e revistas, etc.);
- “Bookcrossing”;
- Tutoria[1].

[1] A falta de hábitos de estudo, de ritmos de vida saudáveis, de um acompanhamento sistemático da vida académica por parte de familiares próximos, e a ocorrência de comportamentos disruptivos ou dificuldades de integração, traz uma nova exigência, a de que alguns alunos sejam acompanhados mais de perto por um professor que vá orientando o seu estudo, o seu desempenho escolar e a sua integração. Deste modo, com o fim de acompanhar as dificuldades e a integração de alunos em risco escolar, propõe-se a criação de projectos de tutoria com duas vertentes distintas, dependendo dos casos:
- professores-tutores,
- alunos-tutores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo algumas notícias recentes, veiculadas pelos media, o Ministério da Educação reequaciona a necessidade de alargar o ensino obrigatório ao Ensino Secundário. Independentemente das razões subjacentes a esta medida, e pelo crescimento que tem sofrido o Ensino Profissional nos últimos anos, assim como pela necessidade de elevar a escolaridade e a especialização profissional da população portuguesa, será inevitável que o ensino profissional venha a alargar-se, nos próximos anos, a um número considerável de alunos. É da nossa opinião que a Ensiguarda – Escola Profissional da Guarda deve adaptar-se a esta realidade da forma mais exigente e inovadora de que for capaz, pronta a operar mudanças, na perspectiva de valorizar o processo de aprendizagem.
Numa época de profundas alterações no Ensino e com uma valorização incessante do Ensino Profissional, urge pensar criticamente o papel da Escola, e (re)equacionar novos trajectos que dêem a oportunidade a Todos de estudar e obter sucesso escolar.
Segundo o P.I.S.A., Programme for International Student Assessment, os alunos portugueses têm muitas dificuldades no domínio da língua, na literacia. Relatórios deste género só terão utilidade se neles nos apoiarmos para investir ainda mais na Educação.
O direito à Educação aparece consignado em declarações e princípios assumidos internacionalmente e a sua falta tem de ser sentida como uma violação dos Direitos Humanos. A Pós-Modernidade, altamente tecnológica e cientificamente desenvolvida, privando os seus cidadãos de escolaridade, condena-os à exclusão, limitando-os na participação democrática e no acesso a condições de vida melhores e mais saudáveis. Ao nível educacional, a primeira grande privação começa com a falta e/ou insuficiente domínio da língua materna, base de aprendizagem de todos os outros saberes.
As propostas que apresentámos visam corresponder às necessidades da Educação, actualmente, e subverter, não só a catastrófica realidade a que se assiste na escola, as incoerências didáctico-pedagógicas para o início do século XXI, mas também projectar a Escola como aquela que investe, de forma inovadora, nos seus alunos.
A ideia de ensinar exige mudança. Infelizmente, submetemos, por força do hábito, e por efeito de bola de neve, o quotidiano escolar à passividade, à resignação e, sobretudo, à falta de espírito crítico. Há que inverter o rumo. Estamos em crer que a mudança, ainda que difícil, lenta e incerta, sobretudo pela falta de tradição neste processo (e que vota a escola à dependência), é ainda possível.
Sob pena de tornarmos o discurso demasiado utópico fazemos das nossas palavras as de Perrenoud (2001:206), que consideramos inteligentes e realistas: «ninguém é responsável nem tem de encontrar sozinho a solução, mas pode trabalhar com os outros para colocar e resolver o problema no contexto de um estabelecimento, de uma equipa, de uma rede, de uma associação profissional, de um centro de pesquisa ou de formação.». Acima de tudo, ninguém pode ser deixado sozinho a resolver problemas. A consciencialização da mudança principia aqui.




Alice: Podes dizer-me, por favor, que caminho hei-de seguir a partir daqui?
Gato: Isso depende muito do sítio onde queres chegar?
Alice: Não me preocupa muito onde vou chegar.
Gato: Então não interessa por que caminho hás-de seguir.

Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll, 1971

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA E DE APOIO

ALARCÃO, Isabel (org.) (2001), Escola reflexiva e nova racionalidade, Porto Alegre, Artmed Editora.

ALVES, Rubem (2003), A Escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir, Campinas – São Paulo, Editora Papirus.

ANTUNES, Celso (2005), As inteligências múltiplas e os seus estímulos, Lisboa, Edições ASA.

AZEVEDO, Manuel Joaquim Pinho Moreira de Azevedo (1999), O ensino secundário na Europa, nos anos noventa – O neoprofissionalismo e a acção do sistema educativo mundial: um estudo internacional, Dissertação de Doutoramento em Ciências, Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Lisboa.

BOLÉO, Manuel de Paiva (1973), O Latim e as Línguas Modernas, Separata das Actas do Colóquio sobre o ensino do Latim, Coimbra, Instituto de Estudos Clássicos e Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Faculdade de Letras.

CARDOSO, Carlos Manuel (1996), Educação Multicultural – Percursos para práticas reflexivas, Lisboa, Texto Editora, (1.ª edição).

CARMELO, Luís (2005), Manual de Escrita Criativa, Biblioteca Universitária, Publicações Europa-América, Mem Martins.

CORREIA, Luís de Miranda, (2001) "Educação inclusiva ou educação apropriada?" in RODRIGUES, David (org.) (2001), Educação e diferença. Valores e práticas para uma educação inclusiva. Porto, Porto Editora.

CORTESÃO, Luiza (s/d), O arco-íris na sala de aula? Processos de organização de turmas: Reflexões críticas, Cadernos de Organização e Gestão Curricular, Instituto de Inovação Educacional.

CRUZ, Vítor, FONSECA, Vítor da (2002), Educação Cognitiva e Aprendizagem, Colecção Educação Especial, n.º 9, Porto, Porto Editora.

ELLIS, Rod (2005), Principles of instructed language learning. «System», nº 33, p. 209-224.

FREIRE, P. J. Geraldes (1968), Valor e actualidade dos estudos clássicos, Livraria Almedina, Coimbra.

FREIRE, Paulo (2006), A pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, São Paulo, Paz e Terra.

JENNINGS, Joyce Holt, CALDWELL, JoAnne, LERNER, Janet W. (2006), Reading Problems – Assessment and Teaching Strategies, Pearson, Boston.

JABOUILLE, Victor (1993), “Eu, professor de Latim: hoje e amanhã” in Classica – Boletim de Pedagogia e Cultura, 19, Lisboa, pp. 37-54.

LEITE, Elvira, SANTOS, Milice Ribeiro dos (s/d), Metodologia do Trabalho de Projecto, s/ local de edição.

LOPES, João A. (2005), Dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita: perspectivas de avaliação e intervenção, Lisboa, Edições ASA.

MARQUES, Ramiro (1998), A Arte de Ensinar: Dos Clássicos aos Modelos Pedagógicos Contemporâneos, Lisboa, Plátano Edições.

MARQUES, Ramiro (1999), Modelos Pedagógicos Actuais, Lisboa, Plátano Edições.

MARTINS, Cristina (2003), Línguas em contacto: "saber sobre" o que as distingue. Análise de competências metalinguísticas de crianças mirandesas em idade escolar. Coimbra: tese de doutoramento inédita.

Ministério da Educação/GAERI (coordenação da edição) (2001), Quadro europeu comum de referência para as línguas. Aprendizagem, ensino, avaliação. Porto: Asa Editores.

Mota, Malice e Zimmer, Márcia Cristina (2005), Cognição e Aprendizagem de L2: o que nos diz a pesquisa nos paradigmas simbólico e conexionista. «Revista Brasileira de Linguística Aplicada», v. 5, nº 2, p. 155-186.

PACHECO, José, EGGERTSDÓTTIR, Rósa, MARINÓSSON, Gretar (2007), Caminhos para a Inclusão: um guia para o aprimoramento da equipe escolar, Porto Alegre, Artmed.

PARADIS, M. (2004), A Neurolinguistic Theory of Bilingualism. Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins.

PERRENOUD, Philippe (2000), 10 Novas Competências para Ensinar, Artmed Editora, Porto Alegre.

PERRENOUD, Philippe (2001), A pedagogia na escola das diferenças: fragmentos de uma sociologia do fracasso, São Paulo, Artmed Editora.

Programa – Componente de Formação Sociocultural – Disciplina de Português (2004/2005), Cursos Profissionais de Nível Secundário, Direcção-Geral de Formação Vocacional, Ministério da Educação.

RIBEIRO, Angelina Bedo, BAPTISTA, Ana Isabel (2006), Dislexia – Compreensão, Avaliação, Estratégias, Coimbra, Quarteto.

SANTANA, Inácia (2000), “Práticas Pedagógicas Diferenciadas” in Revista Escola Moderna, n.º 8, 5.ª série, pp.30-41.

SERRA, Helena (org.) (2005), Avaliação e diagnóstico em dificuldades específicas de aprendizagem: pistas para uma intervenção educativa, Ficheiros Pedagógicos para Professores, Porto, Edições ASA.

SHAYWITZ, Sally (2006), Entendendo a Dislexia: um novo e completo programa para todos os níveis de problemas de leitura, Porto Alegre, Artmed Editora.

SIMÃO, José Veiga, NEIVA, João Manuel Cotelo, RAMALHO, Américo da Costa, Colóquio o ensino do Latim – actas, Coimbra, Instituto de Estudos Clássicos e Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Faculdade de Letras.

STOER, Stephen R., SILVA, Pedro (2005), “Do pai colaborador ao pai parceiro – a reconfiguração de uma relação”, in STOER, Stephen R., SILVA, Pedro (org.), Escola-Família: uma relação em processo de reconfiguração, Porto, Porto Editora.

T.L.E.B.S. – Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário – revisão (2008), Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, Ministério da Educação.

TOMLINSON, Carol Ann (2008), Diferenciação Pedagógica e Diversidade – Ensino de Alunos em Turmas com Diferentes Níveis de Capacidades, Colecção Educação Especial, n.º 18, Porto, Porto Editora.

TOMLINSON, Carol Ann, ALLAN, Susan Demirsky (2002), Liderar projectos de diferenciação pedagógica, Lisboa, Edições ASA.

TORRES, Rosa María Rivas, FERNÁNDEZ, Pilar F. (2002), Dislexia, Disortografia e Disgrafia, Lisboa, Mc Graw Hill.

WEBGRAFIA DE REFERÊNCIA E DE APOIO

ALVES, José Matias (2001), Quadro de referência para as línguas – Aprendizagem, Ensino, Avaliação, Colecção: Perspectivas Actuais / Educação, Ministério da Educação/GAERI, ASA Editores, [http://sitio.dgidc.min- edu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/Attachments/724/Quadro_Europ eu_total.pdf], disponível em 23 de Fevereiro de 2009.

APDIS – Associação Portuguesa de Dislexia, Documento Orientador, [http://apdis.no.sapo.pt/documentoorientador.pdf], disponível em 20 de Fevereiro de 2009.

Bookcrossing, [http://www.bookcrossing-portugal.com/].

BUCKLEY, Francis J. (2000), Team Teaching: What, Why, and How?, SAGE, [http://books.google.co.uk/books?id=SXiA02AHhdoC&printsec=frontcove r], disponível em 24 de Fevereiro de 2009.

CAPUCHA, Luís (2008), O Português Para Falantes de Outras Línguas – o Utilizador Elementar no País de Acolhimento, [http://sitio.dgidc.min- edu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/Attachments/776/Portuguêspara FalantesdeOutrasLingua.pdf], disponível em 23 de Fevereiro de 2009.

Dictionary of Philosophy of Mind, http://philosophy.uwaterloo.ca/MindDict/. Acedido a 6.3.2009.

LEIRIA, Isabel (2008), Orientações Programáticas de Português Língua Não Materna (PLNM) – Ensino Secundário, [http://sitio.dgidc.min- edu.pt/linguaportuguesa/Documents/OrientProgramatPLNMVersaoFinalAbril08. pdf], disponível em 23 de Fevereiro de 2009.

PISA – Programme for International Student Assessment, [http://www.gave.min- edu.pt/np3/11.html], disponível em 16 de Fevereiro de 2009.

Português língua não materna no currículo nacional – documento orientador (2005), [http://sitio.dgidc.min- edu.pt/linguaportuguesa/Documents/PLNMDoc_orientador.pdf], disponível em 23 de Fevereiro de 2009.

Provas de Língua Portuguesa para Aquisição de Nacionalidade, [http://www.provalinguaportuguesa.gov.pt/], disponível em 23 de Fevereiro de 2009.

WALBERG, Herbert J., PAIK, Susan, Práticas Educativas Eficazes (s/ data), Departamento Internacional de Educação da Academia Internacional de Educação, Série Práticas Educativas – 3, U.N.E.S.C.O., http://www.ibe.unesco.org/fileadmin/user_upload/archive/publications/Education lPracticesSeriesPdf/prac03port.pdf, disponível em 10 de Fevereiro de 2009.

ANEXOS

Análise sumária e esquemática da prestação escolar dos alunos do 1.º ano:


Níveis:
0 – Com graves dificuldades
1 – Com muitas dificuldades
2 – Com dificuldades
3 – Com rendimento satisfatório
4 – Com rendimento satisfatório alto
5 – Com bom rendimento
6 – Com rendimento bom alto
7 – Com muito bom rendimento


Nota Bene:

Cada aluno é um caso específico e único, devendo ser analisado individualmente. Os níveis pretendem apenas e somente dar uma ideia da prestação escolar dos alunos na disciplina de Português.

(Por uma questão de privacidade, nesta página web, não são apresentados os anexos que, a sê-lo feito, refeririam os nomes dos alunos.)

Data e proponentes

Guarda, 27 de Março de 2009
Os Professores,
Daniel António Neto Rocha
Liliana Ferreira Verde