terça-feira, 11 de agosto de 2009

PREFÁCIO

Os projectos pedagógicos de ensino da Língua Materna pecam, sobretudo, pela falta de ousadia nas opções estruturantes dos projectos, nas metodologias didáctico-pedagógicas e na relação professor-aluno. Ignora-se, não raras vezes, na opção por aquelas, importantes vectores, tais como o percurso escolar dos alunos, as suas capacidades (desembocando-se num desinvestimento sucessivo nas suas verdadeiras capacidades), e as suas dificuldades, específicas ou não.
Os alunos dos cursos profissionais, em Portugal, são encarados, ainda que isso faça parte de um discurso em surdina, do “restolho” dos alunos, ameaçados pelo desemprego, pela competição académica e outros factores decorrentes dos períodos conjunturais. Apresentam graves lacunas no domínio da língua materna e alimentam um insucesso escolar gritante que, levando facilmente à desmotivação, leva também a um desinvestimento atroz e despoletador do pior dos caminhos, a desistência de estudar e de querer saber e aprender mais. Remediar um percurso escolar incerto, desajustado à realidade cultural dos alunos impõe a necessidade de optar por outros caminhos, de “montar” projectos-piloto e, acima de tudo, de procurar outros sistemas, caminhos, diálogos, cujas metas sejam sempre a qualidade, a exigência e a inovação.
Pensar uma escola nova e diferente é pensar tudo de novo, com sacrifício, com originalidade, em cooperação, em espírito de responsabilidade por quantos serão o futuro de Portugal e constituem o seu Capital Humano, os Alunos. É necessário um outro olhar sobre a sala de aula, sobre os professores e sobretudo sobre os alunos, na forma como estes aprendem, em pleno século XXI, e as competências que têm de ver desenvolvidas.
O modelo por que a Escola se tem organizado é alvo de várias críticas, porquanto os resultados desastrosos da Educação em relatórios internacionais como o P.I.S.A. e o descontentamento geral das políticas. Dentro das críticas mais ferozes sobressaem modelos mais ou menos inspirados em boas práticas estrangeiras. Com efeito, dentro e fora da União Europeia, destacam-se vários exemplos de excelência. A discrepância dos resultados nacionais dos estrangeiros deverá merecer da nossa parte alguma atenção, fazendo-nos reflectir sobre os modelos adoptados.
Apraz-nos, assim, pela oportunidade que nos foi dada de constatar e participar “in loco” outros sistemas educativos, de reflectir sobre as diferentes realidades e partir com algumas premências daquilo que consideramos constituir um bom ensino do Português, evitando, ao máximo, a reprodução de modelos pedagógicos e o ostracismo de quantos não têm conseguido evoluir de acordo com o esperado para a sua idade.
Assim, apresentamos uma proposta metodológica capaz de primar pela diferença e pela inovação, testada e com resultados positivos, em Portugal e em países da União Europeia, como a Finlândia e a Suécia.
Tendo em consideração que o sucesso escolar de cada aluno, único e irrepetível, no seu processo, passa pela sua total realização pessoal e académica, pretendemos ajudá-lo a atingir essa meta, sabendo de antemão que os objectivos a atingir serão diferentes e que nem todos os alunos pretenderão prosseguir os estudos. Tendo em conta isto, é necessário investir e exigir dos alunos que, volitiva e potencialmente, poderão vir a ingressar o Ensino Superior, Técnico ou Universitário, sem determinar, à partida, quem o deverá ou não fazer. À Escola, a partir de um propósito único e diferente, cabe fazer com que o aluno desenvolva, ao máximo, o seu potencial, assim como desenvolva e incremente, paulatinamente, aquelas que são, actualmente, as competências requeridas aos trabalhadores pelo sector empresarial: a Responsabilidade, a Capacidade de Iniciativa, a Capacidade de Trabalho em Equipa, a Adaptabilidade, a Capacidade de Expressão Oral e Escrita, a Criatividade, a Autonomia, a Capacidade de Argumentação e a Ética.
Porque é bom nunca perder de vista que a escola é uma escol(h)a, e que aos professores deve caber também o papel e o dever de sugerirem práticas didáctico- -pedagógicas mais ajustadas à realidade e que julguem melhorar o acompanhamento eficaz da heterogeneidade, apresentamos, aqui, um Projecto Pedagógico de Ensino de Português para a Ensiguarda – Escola Profissional da Guarda, decorrente da nossa experiência de docência, durante um semestre (desde Setembro a Março), com os alunos do 1.º ano, e que procura sugerir metodologias e actividades que melhor se adeqúem aos alunos em causa. As propostas são, pois, feitas em função das características dos alunos que integram o Ensino Profissional.
Algumas estratégias propostas foram já apresentadas anteriormente à Escola, contudo, encontram-se aqui de novo, por uma questão de sistematização e organização.
As metodologias apresentadas não exigem muitas alterações ou até gastos monetários alargados, antes uma mais equilibrada gestão dos recursos humanos de que a Escola, muito provavelmente, já dispõe.
Conscientes de que muito há a dialogar e que qualquer processo de mudança enfrenta resistência, ficaremos disponíveis para esclarecer possíveis dúvidas sobre as metodologias e as propostas apresentadas, assim como fazer parte do processo de reflexão, diálogo, trabalho árduo, reorganização, persistência, capacidade heurística, não esquecendo ainda que a mudança se processa num contexto escolar próprio e que exige tempo.
Na Educação, não há receitas, mas há boas oportunidades para mudar e melhorar.

… e estamos conscientes de que é urgente agir quanto antes.




Os Professores de Português,

Daniel António Neto Rocha

Liliana Ferreira Verde